Escola Básica e Secundária Carolina Michaëlis

Vista aérea do atual edifício, numa imagem captada em 1968.

Sede do Agrupamento de Escolas Carolina Michaëlis

Em 2013/2014 a Escola Secundária passou a sede de Agrupamento, agregando a Escola Básica Irene Lisboa, a Escola Básica Constituição e a Escola Básica Bom Pastor.

Recreio interior da escola

Escultura de Irene Vilar (1930-2008) - Escultora, pintora e medalhista.

BE/CRE

Biblioteca Escolar / Centro de Recursos Educativos

Carolina Wilhelma Michaëlis de Vasconcelos (1851-1925)

Dedicou-se à família e aos amigos e soube inserir-se, como cidadã ativa na sociedade do seu tempo, designadamente através dos esforços desenvolvidos em prol da instrução da mulher e da criança

domingo, 13 de novembro de 2022

“Centauro” um conto de José Saramago

O centauro, de José Saramago. Ler online

Nadine Gordimer lê conto de José Saramago no The Guardian online

BibCarolMich: conto de José Saramago

Nadine Gordimer dá voz a “O Centauro” de José Saramago

Saramago e o seu "Objecto Quase"


‘Centauro’ um belíssimo conto de José Saramago

Por Revista Prosa Verso e Arte

O cavalo parou. Os cascos sem ferraduras firmaram-se nas pedras redondas e resvaladiças que cobriam o fundo quase seco do rio. O homem afastou com as mãos, cautelosamente, os ramos espinhosos que lhe tapavam a visão para o lado da planície. Amanhecia já. Ao longe, onde as terras subiam, primeiro em suave encosta, como tinha lembrança se eram ali iguais à passagem por onde descera muito ao norte, depois abruptamente rasgadas por um espinhaço basáltico que se erguia em muralha vertical, havia umas casas àquela distância baixíssimas, rasteiras, e umas luzes que pareciam estrelas. Sobre a montanha, que barrava todo o horizonte daquele lado, via-se uma linha luminosa, como se uma pincelada subtil tivesse percorrido os cimos, e, húmida, aos poucos se derramasse pela vertente. Dali viria o sol. O homem largou os ramos com um movimento descuidado e arranhou-se: soltou um ronco inarticulado e levou o dedo à boca para chupar o sangue. O cavalo recuou batendo as patas, varreu com a cauda as ervas altas que absorviam os restos da humidade ainda conservada na margem do rio pelo abrigo que os ramos pendentes faziam, cortina àquela hora negra. O rio estava reduzido ao fio de água que corria na parte mais funda do leito, entre pedras, de longe em longe aberta em charcos onde sobreviviam e ansiavam peixes. Havia no ar uma humidade que prenunciava chuva, tempestade, decerto não nesse dia, mas no outro, ou passados três sóis, ou na próxima lua. Muito lentamente, o céu aclarava. Era tempo de procurar um esconderijo, para descansar e dormir.

O cavalo teve sede. Aproximou-se da corrente de água, que estava como parada sob a chapa da noite, e quando as patas da frente sentiram a frescura líquida, deitou-se no chão, de lado. O homem, com o ombro assente na areia áspera, bebeu longamente, embora não tivesse sede. Por cima do homem e do cavalo, a parte ainda escura do céu rodava devagar, arrastando atrás de si uma luz pálida, apenas por enquanto amarelada, primeiro e, se não conhecido, enganador anúncio do carmim e do vermelho que depois explodiriam por cima da montanha, como em tantas outras montanhas de tão diferentes lugares vira acontecer ou ao rés das planícies. O cavalo e o homem levantaram-se. Em frente estava a espessa barreira das árvores, com defesas de silvados entre os troncos. No alto dos ramos já piavam pássaros. O cavalo atravessou o leito do rio num trote inseguro e quis romper a direito pelo emaranhado vegetal, mas o homem preferia uma passagem mais fácil. Com o tempo, e tivera muito e muito tempo para isso, aprendera os modos de moderar a impaciência animal, algumas vezes opondo-se a ela com uma violência que eclodia e prosseguia toda no seu cérebro, ou porventura num ponto qualquer do corpo onde se entrechocavam as ordens que do mesmo cérebro partiam e os instintos obscuros alimentados talvez entre os flancos, onde a pele era negra; outras vezes cedia, desatento, a pensar noutras coisas, coisas que eram sim deste mundo físico em que estava, mas não deste tempo. O cansaço tornara o cavalo nervoso: a pele estremecia como se quisesse sacudir um tavão frenético e sequioso de sangue, e os movimentos das patas multiplicavam-se desnecessários e ainda mais fatigantes. Seria uma imprudência tentar abrir caminho através do entrelaçado das silvas. Havia demasiadas cicatrizes no pêlo branco do cavalo. Uma delas, muito antiga, traçava na garupa um rasto largo, oblíquo. Quando o sol batia forte, de chapa, ou quando, pelo contrário, o frio arrepanhava e eriçava o pêlo, era como se ali, faixa sensível e desprotegida, assentasse incandescente um fio de espada. Apesar de muito bem saber que nada iria encontrar a não ser uma cicatriz maior do que as outras, o homem, nessas ocasiões, torcia o tronco e olhava para trás, como para o fim do mundo.

A pequena distância, para jusante, a margem do rio recolhia-se para o interior do campo: havia decerto ali uma albufeira, ou seria um afluente, tão seco ou mais ainda. O fundo era lodoso, tinha poucas pedras. Ao redor desta espécie de bolsa, afinal simples braço do rio que enchia e vazava com ele, havia árvores altas, negras sob a escuridão que só lentamente se ia levantando da terra. Se a cortina dos troncos e dos ramos derrubados fosse suficientemente densa, poderia passar ali o dia, bem escondido, até que fosse outra vez noite e pudesse continuar o seu caminho. Afastou com as mãos as folhas frescas e, impelido pela força dos jarretes, venceu a ribanceira na escuridão quase total que as copas fartas das árvores defendiam naquele lugar. Logo a seguir, o terreno tornava a descer para uma vala que, mais adiante, provavelmente, atravessaria o campo a descoberto. Encontrara um bom esconderijo para descansar e dormir. Entre o rio e a montanha havia campos de cultivo, terras amanhadas, mas aquela vala, profunda e estreita, não mostrava sinais de ser lugar de passagem. Deu mais alguns passos, agora em completo silêncio. Os pássaros assustados observavam. Olhou para cima: viu iluminadas as pontas altas dos ramos. A luz rasante que vinha da montanha roçava agora a alta franja vegetal. Os pássaros recomeçaram a chilrear. A luz descia pouco a pouco, poeira esverdeada que se mudava em róseo e branco, neblina subtil e instável do amanhecer. Os troncos negríssimos das árvores, contra a luz, pareciam ter apenas duas dimensões, como se tivessem sido recortados do que restava da noite e colados sobre a transparência luminosa que mergulhava na vala. O chão estava coberto de espadanas. Um bom sítio para passar o dia dormindo, um refúgio tranquilo.

Vencido por uma fadiga de séculos e milénios, o cavalo ajoelhou-se. Encontrar posição para dormir que a ambos conviesse, era sempre uma operação difícil. Em geral, o cavalo deitava-se de lado e o homem repousava também assim. Mas enquanto o cavalo podia ficar uma noite inteira nessa posição, sem se mexer, o homem, para não mortificar o ombro e todo o mesmo lado do tronco, tinha de vencer a resistência do grande corpo inerte e adormecido para o fazer voltar-se para o lado oposto: era sempre um sonho difícil. Quanto a dormir de pé, o cavalo podia, mas o homem não. E quando o esconderijo era demasiado estreito, a mudança tornava-se impossível e a exigência dela ansiedade. Não era um corpo cómodo. O homem nunca podia deitar-se de bruços sobre a terra, cruzar os braços sob o queixo e ficar assim a ver as formigas ou os grãos de terra, ou a contemplar a brancura de um caule tenro saindo do negro húmus. E sempre para ver o céu tivera de torcer o pescoço, salvo quando o cavalo se empinava nas patas traseiras, e o rosto do homem, no alto, podia inclinar-se um pouco mais para trás: então, sim, via melhor a grande campânula nocturna das estrelas, o prado horizontal e tumultuoso das nuvens, ou o sino azul e o sol, como o último vestígio da forja original.

O cavalo adormeceu logo. Com as patas metidas entre as espadanas, as crinas da cauda espalhadas pelo chão, respirava profundamente, num ritmo certo. O homem, meio reclinado, com o ombro direito fincado na parede da vala, arrancou alguns ramos baixos e cobriu-se com eles. Em movimento suportava bem o frio e o calor, ainda que não tão bem como o cavalo. Mas quando quieto e adormecido arrefecia rapidamente. Agora, pelo menos enquanto o sol não aquecesse a atmosfera, iria sentir-se bem sob o conforto das folhagens. Na posição em que estava, podia ver que as árvores não se fechavam completamente em cima: uma faixa irregular, já matinal e azul, prolongava-se para diante e, de vez em quando, atravessando-a de uma banda para a outra, ou seguindo-a na mesma direcção por instantes, voavam velozmente os pássaros. Os olhos do homem cerraram-se devagar. O cheiro da seiva dos ramos arrancados entontecia-o um pouco. Puxou para cima do rosto um ramo mais farto de folhas e adormeceu. Nunca sonhava como sonha um homem. Também nunca sonhava como sonharia um cavalo. Nas horas em que estavam acordados, as ocasiões de paz ou de simples conciliação não eram muitas. Mas o sonho de um e o sonho do outro faziam o sonho do centauro.

Era o último sobrevivente da grande e antiga espécie dos homens-cavalos. Estivera na guerra contra os Lápitas, sua primeira e dos seus grande derrota. Com eles, vencidos, se refugiara em montanhas de cujo nome já se esquecera. Até que acontecera o dia fatal em que, com a parcial protecção dos deuses, Héracles dizimara os seus irmãos, e ele só escapara porque a demorada batalha de Héracles e Nesso lhe dera tempo para se refugiar na floresta. Tinham acabado então os centauros. Porém, contra o que afirmavam os historiadores e os mitólogos, um ficara ainda, este mesmo que vira Héracles esmagar num abraço terrível o tronco de Nesso e depois arrastar o seu cadáver pelo chão, como a Heitor viria a fazer Aquiles, enquanto se ia louvando aos deuses por ter vencido e exterminado a prodigiosa raça dos Centauros. Talvez repesos, os mesmos deuses favoreceram então o centauro escondido, cegando os olhos e o entendimento de Héracles por não se sabia então que desígnios.

Todos os dias, em sonho, lutava com Héracles e vencia-o. No centro do círculo dos deuses, de cada vez e sempre reunidos às ordens do seu sonho, lutava braço a braço, furtava a garupa escorregadia ao salto astuto que o inimigo tentava, esquivava-se à corda que lhe assobiava entre as patas, e obrigava-o a lutar de frente. O seu rosto, os braços, o tronco, suavam como pode suar um homem. O corpo do cavalo cobria-se de espuma. Este sonho repetia-se há milhares de anos, e sempre nele o desenlace se repetia: pagava em Héracles a morte de Nesso, chamava aos braços e aos músculos do torso toda a sua força de homem e de cavalo: assente nas quatro patas como se fossem estacas enterradas no chão, erguia Héracles ao ar e apertava, apertava, até que ouvia a primeira costela estalar, depois outra, e finalmente a espinha que se partia. Héracles, morto, escorregava para o chão como um trapo e os deuses aplaudiam. Não havia nenhum prémio para o vencedor. Os deuses levantavam-se das suas cadeiras de ouro e afastavam-se, alargando cada vez mais o círculo até desaparecerem no horizonte. Da porta por onde Afrodite entrava no céu, saía sempre e brilhava uma grande estrela.

Há milhares de anos que percorria a terra. Durante muito tempo, enquanto o mundo se conservou também ele misterioso, pôde andar à luz do Sol. Quando passava, as pessoas vinham ao caminho e lançavam-lhe flores entrançadas por cima do seu lombo de cavalo, ou faziam com elas coroas que ele punha na cabeça. Havia mães que lhe davam os filhos para que os levantasse no ar e assim perdessem o medo das alturas. E em todos os lugares havia uma cerimónia secreta: no meio de um círculo de árvores que representavam os deuses, os homens impotentes e as mulheres estéreis passavam por baixo do ventre do cavalo: era crença de toda a gente que assim floria a fertilidade e se renovava a virilidade. Em certas épocas, levavam uma égua ao centauro e retiravam-se para o interior das casas: mas um dia, alguém que por esse sacrilégio veio a cegar, viu que o centauro cobria a égua como um cavalo e que depois chorava como um homem. Dessas uniões nunca houve fruto.

Então chegou o tempo da recusa. O mundo transformado perseguiu o centauro, obrigou-o a esconder-se. E outros seres tiveram de fazer o mesmo: foi o caso do unicórnio, das quimeras, dos lobisomens, dos homens de pés de cabra, daquelas formigas que eram maiores que raposas, embora mais pequenas que cães. Durante dez gerações humanas, este povo diverso viveu reunido em regiões desertas. Mas, com o passar do tempo, também ali a vida se tornou impossível para eles, e todos dispersaram. Uns como o unicórnio, morreram; as quimeras acasalaram com os musaranhos, e assim apareceram os morcegos; os lobisomens introduziram-se nas cidades e nas aldeias e só em noites marcadas correm o seu fado; os homens de pés de cabra extinguiram-se também, e as formigas foram perdendo tamanho e hoje ninguém é capaz de as distinguir entre aquelas suas irmãs que sempre foram pequenas. O centauro acabou por ficar sozinho. Durante milhares de anos, até onde o mar consentiu, percorreu toda a terra possível. Mas em todos os seus itinerários passava de largo sempre que pressentia as fronteiras do seu primeiro país. O tempo foi passando. Por fim, já lhe não sobrava terra para viver com segurança. Passou a dormir durante o dia e a caminhar de noite. Caminhar e dormir. Dormir e caminhar. Sem nenhuma razão que conhecesse, apenas porque tinha patas e sono. Comer, não precisava. E o sono só era necessário para que pudesse sonhar. E a água, apenas porque era a água.

Milhares de anos tinham de ser milhares de aventuras. Milhares de aventuras, porém, são demasiadas para valerem uma só verdadeira e inesquecível aventura. Por isso, todas juntas não valeram mais do que aquela, já neste milénio último, quando no meio de um descampado árido viu um homem de lança e armadura, em cima de um mirrado cavalo, investir contra um exército de moinhos de vento. Viu o cavaleiro ser atirado ao ar e depois um outro homem baixo e gordo acorrer, aos gritos, montado num burro. Ouviu que falavam numa língua que não entendia, e depois viu-os afastarem-se, o homem magro maltratado, e o homem gordo carpindo-se, o cavalo magro coxeando, e o burro indiferente. Pensou sair-lhes ao caminho para os ajudar, mas, tornando a olhar os moinhos, foi para eles a galope, e, postado diante do primeiro, decidiu vingar o homem que fora atirado do cavalo abaixo. Na sua língua natal, gritou: «Mesmo que tivesses mais braços do que o gigante Briareu, a mim haverias de o pagar.» Todos os moinhos ficaram com as asas despedaçadas e o centauro foi perseguido até à fronteira de um outro país. Atravessou campos desolados e chegou ao mar. Depois voltou para trás.

Todo o centauro dorme. Dorme todo o seu corpo. Já o sonho veio e passou, e agora o cavalo galopa por dentro de um dia antiquíssimo para que o homem possa ver desfilarem as montanhas como se por seu pé andassem, ou por veredas delas subir ao alto e dali olhar o mar sonoro e as ilhas espalhadas e negras, rebentando a espuma em redor delas como se da profundidade acabassem de nascer e de lá surgissem deslumbradas. Não é isto um sonho. Vem do largo um cheiro salino. As narinas do homem dilatam-se sôfregas, e os braços estendem-se para o alto, enquanto o cavalo, excitado, bate com os cascos em pedras que são mármore e afloram. As folhas que cobriam a cara do homem escorregaram, já emurchecidas. O sol, alto, cobre o centauro de manchas de luz. Não é um rosto velho, o do homem. Novo, também não, porque não o poderia ser, porque os anos se contam por milhares. Mas pode comparar-se com o duma estátua antiga: o tempo gastou-o, não tanto que apagasse as feições, o bastante apenas para as mostrar ameaçadas. Uma pequena lagoa luminosa cintila sobre a pele, desliza muito lentamente para a boca, aquece-a. O homem abre os olhos de repente, como o faria a estátua. Pelo meio das ervas, afasta-se ondulando uma cobra. O homem leva a mão à boca e sente o sol. Nesse mesmo instante, a cauda do cavalo agita-se, varre a garupa e sacode um moscardo que sondava a pele fina da grande cicatriz. Rapidamente, o cavalo põe-se de pé e o homem acompanha-o. O dia vai por metade, outro tanto falta para que chegue a primeira sombra da noite, mas não há mais dormir. O mar, que não foi sonho, ainda ressoa nos ouvidos do homem, ou não o real ruído do mar, talvez o bater visto das ondas que os olhos transformam em ondas sonoras que vêm sobre as águas, sobem pelas gargantas rochosas até ao alto, até ao sol e ao céu azul de outra vez água.

Está perto. A vala por onde segue é apenas um acidente, leva a qualquer lado, é obra de homens e caminho para chegar aos homens. Porém, aponta na direcção do sul, e é isso que conta. Avançará por ali até onde Ihe for possivel, mesmo sendo dia, mesmo com o sol cobrindo toda a planície e denunciando tudo, homem ou cavalo. Uma vez mais vencera Héracles no sonho, diante de todos os deuses imortais, mas, acabado o combate, Zeus retirara-se para o sul, e foi depois que desfilaram as montanhas e do ponto mais alto delas, onde havia umas colunas brancas, viam-se as ilhas e a espuma em redor. Está perto a fronteira e Zeus afastou-se para o sul.

Caminhando ao longo da vala estreita e funda, o homem pode ver o campo de um lado e do outro. As terras parecem agora abandonadas. Já não sabe onde ficou a povoação que vira na hora do amanhecer. O grande espinhaço rochoso cresceu de altura, ou está talvez mais próximo. As patas do cavalo afundam-se no chão mole que aos poucos vai subindo. Todo o tronco do homem está já fora da vala, as árvores tornam-se mais espaçadas, e de súbito, quando o campo ficou todo aberto, a vala acaba. O cavalo vence com um simples movimento o último declive, e o centauro aparece todo no claro do dia. O sol está à mão direita e bate com força na cicatriz, que, ferida, arde. O homem olha para trás, segundo o seu costume. A atmosfera está abafada e húmida. Não é porém que o mar esteja tão perto. Esta humidade promete chuva e este brusco sopro de vento também. Ao norte, juntam-se nuvens.

O homem hesita. Há muitos anos que não ousa caminhar a descoberto, sem a protecção da noite. Mas hoje sente-se tão excitado como o cavalo. Avança pelo terreno coberto de mato donde se desprendem cheiros fortes de flores bravas. A planicie terminou, e agora o chão ergue-se em corcovas e limita o horizonte ou alarga-o cada vez mais, porque as elevações já são colinas e adiante levanta-se uma cortina de montes. Começam a surgir arbustos e o centauro sente-se mais protegido. Tem sede, muita sede, mas ali não há sinal de água. O homem olha para trás e vê que metade do céu está já coberto de nuvens. O sol ilumina o bordo nítido de um grande nimbo cinzento que avança.

É neste momento que se ouve ladrar um cão. O cavalo estremece de nervosismo. O centauro lança-se a galope entre duas colinas, mas o homem não perde o sentido: seguir na direcção do sul. O ladrar está mais perto, e ouve-se também um tilintar de campainhas e depois uma voz falando a gado. O centauro parou para se orientar, porém os ecos enganaram-no e, de súbito, num terreno baixo e húmido inesperado, aparece-lhe um rebanho de cabras e à frente dele um grande cão. O centauro estacou. Algumas das cicatrizes que Ihe riscavam o corpo, devia-as aos cães. O pastor deu um grito espavorido e largou a fugir, como louco. Chamava em altos berros: devia haver uma povoação ali perto. O homem dominou o cavalo e avançou. Arrancou um ramo forte de um arbusto para afastar o cão, que se estrangulava a ladrar, de fúria e medo. Mas foi a fúria que prevaleceu: o cão ladeou rapidamente umas pedras e tentou apanhar o centauro de flanco, pelo ventre. O homem quis olhar para trás, ver donde vinha o perigo, mas o cavalo antecipou-se, e rodando veloz sobre as patas da frente, desferiu um violento coice que apanhou o cão no ar. O animal foi bater contra as pedras, morto. Não era a primeira vez que o centauro se defendia assim, mas de todas as vezes o homem se sentia humilhado. No seu próprio corpo batia a ressaca da vibração geral dos músculos, a vaga de energia que deflagrava, ouvia o bater surdo dos cascos, mas estava de costas voltadas para a batalha, não era parte nela, espectador quando muito.

O sol escondera-se. O calor desapareceu subitamente do ar e a humidade tornou-se palpável. O centauro correu entre as colinas, sempre para o sul. Ao atravessar um pequeno regato viu terrenos cultivados, e quando procurava orientar-se esbarrou com um muro. Para um lado, havia algumas casas. Foi então que se ouviu um tiro. Como de um enxame, sentiu o corpo do cavalo crispar-se sob as picadas. Havia gente que gritava e depois deram outro tiro. A esquerda estralejaram ramos dilacerados, mas nenhum bago de chumbo o atingiu desta vez. Recuou para ganhar balanço, e num impulso venceu o muro. Passou sobre ele, voando, homem e cavalo, centauro, quatro patas estendidas ou dobradas, dois braços abertos para o céu ainda para além azul. Soaram mais tiros, e depois foi o tropel dos homens que o perseguiam pelos campos, dando gritos, e o ladrar dos cães.

Tinha o corpo coberto de espuma e de suor. Houve um momento em que parou para procurar caminho. O campo em redor tornou-se também expectante, como se estivesse de ouvido à escuta. E então caíram as primeiras e pesadas gotas de chuva. Mas a perseguição continuava. Os cães seguiam um rasto para eles estranho, mas de mortal inimigo: um misto de homem e de cavalo, umas patas assassinas. O centauro correu mais, correu muito, até que percebeu que os gritos se tinham tornado diferentes e o ladrar dos cães era já de frustração. Olhou para trás. A uma boa distância, viu os homens parados, ouviu-lhes as ameaças. E os cães que tinham avançado voltavam para os donos. Mas ninguém se adiantava. O centauro vivera tempo bastante para saber que isto era uma fronteira, um limite. Os homens, segurando os cães, não ousavam atirar-lhe tiros: apenas um foi disparado, mas de tão longe que não ouviu sequer cair o chumbo. Estava salvo, sob a chuva que desabava em torrente e abria regos rápidos entre as pedras, sobre esta terra onde nascera. Continuou a caminhar para o sul. A água ensopava-lhe o pêlo branco, lavava a espuma, o sangue e o suor e toda a sujidade acumulada. Regressava muito velho, coberto de cicatrizes, mas imaculado.

De repente, a chuva parou. No momento seguinte, o céu ficou todo varrido de novens, e o sol caiu de chapa sobre a terra molhada donde, ardendo, fez levantar nuvens de vapor. O centauro caminhava a passo, como se viajasse sobre uma neve imponderável e tépida. Não sabia onde estava o mar, mas ali era a montanha. Sentia-se forte. Matara a sede com a água da chuva, levantando o rosto para o céu, de boca aberta, bebendo em longos haustos, com a torrente a deslizar-lhe pelo pescoço, pelo tronco abaixo, lustralmente. E agora descia para o lado sul da montanha, devagar, rodeando os enormes pedregulhos que se amontoavam e escoravam uns aos outros. O homem apoiava as mãos nos penedos mais altos, sentindo debaixo dos dedos os musgos macios, os líquenes ásperos, ou a rugosidade estreme da pedra. Em baixo havia, de largo a largo, um vale que àquela distância parecia estreito, enganadoramente. Ao longo dele, com grandes intervalos, via três povoações, ao meio a maior, e o sul para além dela. Cortando o vale a direito, teria de passar perto da povoação. Passaria? Lembrava-se da perseguição, dos gritos, dos tiros, dos outros homens do lado de lá da fronteira. Do incompreensível ódio. Esta terra era a sua, mas quem eram os homens que nela viviam? O centauro continuava a descer. O dia ainda estava longe de acabar. O cavalo, exausto, pousava os cascos com cuidado, e o homem pensou que lhe conviria descansar antes de se aventurar na travessia do vale. E, sempre pensando, decidiu que esperaria pela noite, que antes dormiria em qualquer refúgio que encontrasse, para ganhar as forças necessárias à longa caminhada que lhe restava fazer até ao mar.

Continuou a descer, cada vez mais lentamente. E quando enfim se dispunha a ficar entre duas pedras, viu a entrada negra duma caverna, alta bastante para que todo ele pudesse entrar, homem e cavalo. Ajudando-se com os braços, assentando ao de leve os cascos rapados pelas pedras duríssimas, introduziu-se na gruta. Não era muito funda, nenhuma caverna se prolongava pela montanha dentro, mas havia espaço bastante para mover-se nela à vontade. O homem apoiou os antebraços na parede rochosa e deixou pender a cabeça sobre eles. Respirava fundo, procurando resistir, não acompanhar o ofegar ansioso do cavalo. O suor escorria-lhe pela cara. Depois o cavalo dobrou as patas da frente e deixou-se cair no chão coberto de areia. Deitado, ou soerguido como era hábito, o homem nada podia ver do vale. A boca da gruta abria apenas para o céu azul. Em qualquer ponto, lá no fundo, gotejava água, a longos intervalos regulares, produzindo um eco de cisterna. Uma paz profunda enchia a gruta. Estendendo um braço para trás, o homem passou a mão sobre o pêlo do cavalo, sua própria pele transformada ou pele que em si transformara. O cavalo estremeceu de satisfação, todos os seus músculos se distenderam e o sono ocupou o grande corpo. O homem deixou cair a mão, que escorregou e foi repousar na areia seca.

O sol, descendo no céu, começou a iluminar a gruta. O centauro não sonhou com Héracles nem com os deuses sentados em círculo. Também não se repetiu a grande visão das montanhas viradas para o mar, as ilhas espumejantes, a infinita extensão líquida e sonora. Apenas uma parede escura, ou apenas sem cor, baça, intransponível. Entretanto, o sol entrou até ao fundo da caverna, fez cintilar todos os cristais da pedra, transformou cada gota de água numa pérola vermelha que se desprendia do tecto, mas antes inchava até ao inverosímil, e depois riscava três metros de fogo vivo, para se afundar num pequeno poço já escuro. O centauro dormia. O azul do céu foi desmaiando, inundou-se o espaço de mil cores de forja, e o entardecer arrastou devagar a noite como um corpo cansado que por sua vez vai adormecer. A gruta, em trevas, tornara-se imensa, e as gotas de água caíam como pedras redondas na aba de um sino. Era já noite escura e a Lua nasceu.

O homem acordou. Sentia a angústia de não ter sonhado. Pela primeira vez em milhares de anos, não sonhara. Abandonara-o o sonho na hora em que regressara à terra onde nascera? Porquê? Que presságio? Que oráculo diria? O cavalo, mais longe, dormia ainda, mas já inquietamente. De vez em quando agitava as patas traseiras, como se galopasse em sonhos, não dele, que não tinha cérebro, ou somente emprestado, mas da vontade que os músculos eram. Deitando a mão a uma pedra saliente, ajudando-se com ela, o homem levantou o tronco, e, como se estivesse em estado de sonambulidade, o cavalo seguiu-o, sem esforço, num movimento fluido em que parecia não haver peso. E o centauro saiu para a noite.

Todo o luar do espaço se espalhava sobre o vale. Tanto era que não podia ser apenas o da simples, pequena lua da terra, Sélene silenciosa e fantasmal, mas o de todas as luas levantadas na infinita sucessão das noites onde outros sóis e terras sem esses e outros nenhuns nomes rodam e brilham. O centauro respirou fundo pelas narinas do homem: o ar estava macio, como se passasse pelo filtro duma pele humana, e havia nele o perfume da terra que foi molhada e agora devagar está secando, entre o labiríntico abraço das raízes que seguram o mundo. Desceu para o vale por um caminho fácil, quase remansoso, jogando harmoniosamente com os seus quatro membros de cavalo, oscilando os seus dois braços de homem, passo a passo, sem que uma pedra rolasse, sem que uma aresta viva abrisse outro rasgão na pele. E foi assim que chegou ao vale, como se a viagem fizesse parte do sonho que não tivera enquanto dormira. Adiante havia um rio largo. Do outro lado, um pouco para a esquerda, era a povoação maior, aquela que estava no caminho do sul. O centauro avançou a descoberto, seguido pela sombra singular que não tinha par no mundo. Trotou ligeiramente pelos campos cultivados, mas escolhia os carreiros para não pisar as plantas. Entre a faixa de cultura e o rio havia árvores dispersas e sinais de gado. O cavalo, sentindo o cheiro, agitou-se, mas o centauro seguiu para a frente, para o rio. Entrou cautelosamente na água, tenteando com os cascos. A profundidade foi aumentando, até chegar ao peito do homem. No meio do rio, sob o luar que era outro rio correndo, quem visse veria um homem atravessando a vau, com os braços erguidos, braços, ombros e cabeça de homem, cabelos em vez de crinas. Pelo interior da água caminhava um cavalo. Os peixes, acordados pelo luar, nadavam em redor dele e mordiscavam-lhe as pernas.

Todo o tronco do homem saiu da água, depois apareceu o cavalo, e o centauro subiu para a margem. Passou por baixo dumas árvores e no limiar da planície parou para se orientar. Lembrou-se de como o tinham perseguido do outro lado da montanha, lembrou-se dos cães e dos tiros, dos homens aos gritos, e teve medo. Preferia agora que a noite fosse escura, teria preferido caminhar debaixo duma tempestade como a do dia anterior, que fizesse recolher os cães e afastasse as pessoas para casa. O homem pensou que toda a gente naqueles arredores já devia saber da existência do centauro, que decerto a notícia tinha passado por cima da fronteira. Compreendeu que não podia atravessar o campo em linha recta, em plena luz. A passo, começou a seguir ao longo do rio, sob a protecção da sombra das árvores. Talvez adiante o terreno lhe fosse mais favorável, onde o vale se estreitava e acabava entalado entre duas altas colinas. Continuava a pensar no mar, nas colunas brancas, fechava os olhos e revia o rasto que Zeus deixara ao afastar-se para o sul.

Subitamente, ouviu um marulhar de água. Ficou parado, à escuta. O rumor repetia-se, diminuía, voltava. Sobre o chão coberto de erva rasteira, os passos do cavalo soavam tão abafados que não se distinguiam entre a múltipla e tépida crepitação da noite e do luar. O homem afastou os ramos e olhou para o rio. Na margem havia roupas. Alguém tomava banho. Empurrou mais os ramos. E viu uma mulher. Saía da água, completamente despida, brilhava sob o luar, branca. Muitas outras vezes o centauro vira mulheres, mas nunca assim, neste rio, com esta lua. Outras vezes vira seios oscilando, o tremor das coxas ao andar, o ponto de escuridão no centro do corpo. Outras vezes vira cabelos caindo para as costas, e mãos que os lançavam para trás, gesto tão antigo. Mas a parte que lhe cabia do mundo em que as mulheres viviam, era só a que satisfaria o cavalo, talvez o centauro, não o homem. E foi o homem que olhou, que viu a mulher aproximar-se da roupa, foi ele que rompeu por entre os ramos, correu para ela no seu trote de cavalo e depois, ao mesmo tempo que ela gritava, a levantou nos braços.

Também isto fizera algumas vezes, tão poucas, em milhares de anos. Acto inútil, apenas assustador, acto que poderia ter deixado atrás de si a loucura, se isso mesmo não aconteceu. Mas esta era a sua terra e a primeira mulher que nela via. O centauro correu ao longo das árvores, e o homem sabia que mais adiante pousaria a mulher no chão, frustrado ele, apavorada ela, mulher inteira, homem por metade. Agora um caminho largo quase tocava as árvores, e adiante o rio fazia uma curva. A mulher já não gritava, apenas soluçava e tremia. E foi então que se ouviram outros gritos. No virar da curva, o centauro foi parar a um pequeno aglomerado de casas baixas que as árvores escondiam. Havia gente no pequeno espaço em frente. O homem apertou a mulher contra o peito. Sentia-lhe os seios duros, o púbis no lugar em que o seu corpo de homem se recolhia e se tornava peitoral de cavalo. Algumas pessoas fugiram, outras atiraram-se para a frente, e outras entraram nas casas e saíram com espingardas. O cavalo levantou-se sobre as patas traseiras, encabritou-se para as alturas. A mulher, assustada, gritou uma vez mais. Alguém disparou um tiro para o ar. O homem compreendeu que a mulher o protegia. Então, o centauro ladeou para o campo aberto, fugindo das árvores que poderiam embaraçar-lhe os movimentos, e, sempre com a mulher agarrada, contornou as casas e lançou-se a galope pelo campo fora, na direcção das duas colinas. Atrás de si ouvia gritos. Talvez se lembrassem de persegui-lo a cavalo, mas nenhum cavalo podia competir com um centauro, como fora demonstrado em milhares de anos de fuga constante. O homem olhou para trás: os perseguidores vinham longe, muito longe. Então, segurando a mulher por baixo dos braços, olhando-a em todo o corpo, com todo o luar despindo-a, disse na sua velha língua, na língua dos bosques, dos favos de mel, das colunas brancas, do mar sonoro, do riso sobre as montanhas:

— Não me queiras mal.

Depois, devagar, pousou-a no chão. Mas a mulher não fugiu. Saíram-lhe da boca palavras que o homem foi capaz de entender:

— Tu és um centauro. Tu existes.

Pousou-lhe as duas mãos sobre o peito. As patas do cavalo tremiam. Então a mulher deitou-se e disse:

— Cobre-me.

O homem via-a de cima, aberta em cruz. Avançou lentamente. Durante um momento, a sombra do cavalo cobriu a mulher. Nada mais. Então o centauro afastou-se para o lado e lançou-se a galope, enquanto o homem gritava, cerrando os punhos na direcção do céu e da lua. Quando os perseguidores se aproximaram enfim da mulher, ela não se mexera. E quando a levaram, embrulhada numa manta, os homens que a transportavam ouviram-na chorar.

Naquela noite, todo o país soube da existência do centauro. O que primeiro se julgara ser uma história inventada do outro lado da fronteira com intenção de desfrute, tinha agora testemunhas de fé, entre as quais uma mulher que tremia e chorava. Enquanto o centauro atravessava esta outra montanha, saía gente das aldeias e das cidades, com redes e cordas, também com armas de fogo, mas só para assustar. É preciso apanhá-lo vivo, dizia-se. O exército também se pôs em movimento. Aguardava-se o nascer do dia para que os helicópteros levantassem voo e percorressem toda a região. O centauro procurava os caminhos mais escondidos, mas ouviu muitas vezes ladrarem cães, e chegou, mesmo, sob o luar que já esmorecia, a ver grupos de homens que batiam os montes. Toda a noite o centauro caminhou, sempre para o sul. E quando o Sol nasceu estava no alto duma montanha donde viu o mar. Muito ao longe, mar apenas, nenhuma ilha, e o som duma brisa que cheirava a pinheiros, não o bater da onda, não o perfume angustioso do sal. O mundo parecia um deserto suspenso da palavra povoadora.

Não era um deserto. Ouviu-se de repente um tiro. E então, num arco de círculo largo, saíram homens de detrás das pedras, em grande alarido, mas sem poderem disfarçar o medo, e avançaram com redes e cordas e laços e varas. O cavalo ergueu-se para o espaço, agitou as patas da frente e voltou-se, frenético, para os adversários. O homem quis recuar. Lutaram ambos, atrás, em frente. E na borda da escarpa as patas escorregaram, agitaram-se ansiosas à procura de apoio, e os braços do homem, mas o grande corpo resvalou, caiu no vazio. Vinte metros abaixo, uma lâmina de pedra, inclinada no ângulo necessário, polida por milhares de anos de frio e de calor, de sol e de chuva, de vento e neve desbastando, cortou, degolou o corpo do centauro naquele preciso sítio em que o tronco do homem se mudava em tronco de cavalo. A queda acabou ali. O homem ficou deitado, enfim, de costas, olhando o céu. Mar que se tornava profundo por cima dos seus olhos, mar com pequenas nuvens paradas que eram ilhas, vida imortal. O homem girou a cabeça de um lado para o outro: outra vez mar sem fim, céu interminável. Então olhou o seu corpo. O sangue corria. Metade de um homem. Um homem. E viu que os deuses se aproximavam. Era tempo de morrer.

– José Saramago, conto ‘Centauro’. do livro “Objecto quase”. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

fonte: Revista Prosa Verso e Arte


sábado, 12 de novembro de 2022

O discurso de José Saramago ao receber o Prémio Nobel de Literatura de 1998

"O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. Às quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo. Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram analfabetos um e outro. No Inverno, quando o frio da noite apertava ao ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às pocilgas os bácoros mais débeis e levavam-nos para a sua cama. Debaixo das mantas grosseiras, o calor dos humanos livrava os animaizinhos do enregelamento e salvava-os de uma morte certa...."

Para saber mais


O Conto da ilha desconhecida (excerto)

 

Disponibilização de excerto do conto online.

Para aceder ao documento, clicar na imagem.

Para ouvir podcast







A maior flor do mundo (adaptação)

 

Adaptação do conto de José Saramago. Clicar na imagem para aceder ao recurso.









Aproveitamos para recordar o reconto desta história, escrito e narrado por um dos antigos alunos deste agrupamento, com revisão da professora titular do 1.º ciclo e a ajuda da professora bibliotecária na utilização da ferramenta digital.

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A Maior Flor do Mundo from Fundação Jose Saramago on Vimeo.

Curta-metragem de animação baseada no livro «A Maior Flor do Mundo», de José Saramago.
De Juan Pablo Etcheverry, com música de Emilio Aragón.
Produção de Continental Animación.


Centenário de José Saramago - sugestão

Aceitem a proposta da Fundação Saramago para 16 de novembro, dia em que se assinala o centenário de nascimento do escritor:

"Leitoras e leitores de José Saramago espalhados pelo mundo também poderão participar nos festejos através das redes sociais ao partilharem as suas passagens favoritas de livros do escritor com a hashtag #Saramago100."


 

5ª edição do Programa Cientificamente Provável

À semelhança das edições anteriores, para participar neste Programa as bibliotecas escolares deverão estabelecer contactos com Unidade(s) de Investigação e/ou Biblioteca(s) de Ensino Superior que considerem mais adequadas, em função das áreas científicas do seu interesse e da relativa proximidade geográfica.

Depois de realizadas as reuniões agendadas com as Unidades de Investigação de Ensino Superior para definição do Plano de Atividades a desenvolver, são preenchidos os formulários que estabelecem as parcerias com a EBS Carolina Michaëlis.

Estabelecemos parceria com:

  • Núcleo de Investigação Cardiovascular da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (UniC);

  • Instituto de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (I&D502) 

Estas parcerias, entre cada escola e cada entidade do ensino superior, regem-se pelo estipulado no Protocolo global do programa Cientificamente Provável, que pode ser consultado abaixo.

Destaca-se que...

"Essas parcerias têm constituído uma mais-valia para a ação da RBE, uma vez que tem permitido ampliar o trabalho das bibliotecas escolares, que se pretendem espaços implicados na promoção da leitura, de práticas de cultura científica e experimentação, no apoio às aprendizagens e no desenvolvimento das literacias dos alunos, enquadrados pelo referencial Aprender com a Biblioteca Escolar.

O Protocolo terá a duração de três (03) anos, renováveis por igual período, desde que não seja denunciado por qualquer uma das Partes. 

Protocolo do Programa




quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Dia Mundial do Património Audiovisual 2022

Em 2005, a UNESCO proclamou o dia 27 de outubro como o Dia Mundial do Património Audiovisual. A data foi selecionada com a intenção de comemorar a aprovação na 21ª sessão da Conferência Geral da UNESCO, em 27 de outubro de 1980, da Recomendação sobre a Salvaguarda e Conservação das Imagens em Movimento.

fonte: RBE Para saber mais



 

domingo, 23 de outubro de 2022

Semana Mundial da Literacia Mediática e da Informação

 

A Semana Mundial da Literacia Mediática e da Informação (Global Media and Information Literacy [MIL] Week) [1], promovida anualmente pela UNESCO, é uma ocasião importante para reafirmar e aumentar o compromisso MIL para todos e aprofundar a compreensão e dar visibilidade ao seu papel no restabelecimento da confiança, da proteção social e da solidariedade, designadamente na governação e media.
Fonte: RBE


Em 2022 as comemorações têm por tema "Alimentando a Confiança: Um Imperativo da Literacia Mediática e da Informação" e são organizadas por Abuja, capital da Nigéria.

De acordo com a sua Nota Concetual [2], a Semana Global MIL reúne atividades no âmbito de 7 subtemas:

1. MIL alimenta a confiança, a proteção social e a solidariedade coletiva;

2. Acelerar o acesso à MIL em paralelo com o acelerar da conectividade digital universal;

3. MIL é componente-chave para exercício dos direitos humanos fundamentais;

4. Popularizar os padrões globais MIL popularizados pela UNESCO, designadamente a partir dos seguintes recursos:

Media and Information Literate Citizens: Think Critically, Click Wisely/ Cidadãos Literatos de Media e Informação: Pense Criticamente, Clique com Sabedoria [3];

Addressing conspiracy theories: what should educators know/ Abordando teorias da conspiração: o que devem saber os educadores [4];

5. Desenvolver formas inovadoras de diminuir desigualdades no acesso aos meios de comunicação e informação;

6. Parcerias e financiamento para promover a literacia em todos os níveis da sociedade;

7. Desenvolver a política MIL, a nível nacional e regional, “para assegurar a equidade e o acesso ético a informação de qualidade”.



Referências

1. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. (2022, Oct.). Global Media and Information Literacy Week (24-31 October). UNESCO: Paris. https://www.unesco.org/en/weeks/media-information-literacy

2. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. (2022, Oct.). Concept Note. UNESCO: Paris. https://euimg.vfairs.com/uploads/vjfnew/10000103/uploads/vjf/content/misc/1665491149Global%20Media%20and%20Information%20Literacy%202022%20Concept%20Note%20(2).pdf

3. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. (2021). Media and information literate citizens: think critically, click wisely! UNESCO: Paris. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000377068

4. Rede de Bibliotecas Escolares. (2022, 11 out.). Teorias de conspiração: o que os professores precisam de saber. Lisboa: RBE. https://blogue.rbe.mec.pt/teorias-de-conspiracao-o-que-os-2649043

5. (2022, January). 2022 Edelman Trust Barometer: The Cycle of Distrust. EUA: Edelman. https://www.edelman.com/trust/2022-trust-barometer

6. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. (2022, Oct.). How libraries can celebrate. UNESCO: Paris. https://euimg.vfairs.com/uploads/vjfnew/10000103/content/files/1665501067gmw-flyer-literacy-v4-pdf1665501067.pdf

United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. (2022, Oct.).  How youth organisations can celebrate. UNESCO: Paris. https://euimg.vfairs.com/uploads/vjfnew/10000103/content/files/1665501106gmw-flyer-youth-v2-pdf1665501106.pdf

United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. (2022, Oct.).  How schools can celebrate. UNESCO: Paris. https://euimg.vfairs.com/uploads/vjfnew/10000103/content/files/1665501098gmw-flyer-schools-v3-pdf1665501098.pdf

7. Carvalho, Bernardo & Meira, Isabel. (2022, 6 mai.). Gosto, logo existo: Redes sociais, jornalismo e um estranho vírus chamado fake news. Lisboa: Planeta Tangerina. https://www.planetatangerina.com/pt-pt/loja/gosto-logo-existo/

Pascoal, Cláudia & Betweien Login. Lisboa: Universal Music Group. https://universalmusic.pt/claudia-pascoal-lanca-login-livro-pedagogico-sobre-a-utilizacao-das-redes-sociais/

Tavares, Gonçalo. (2022). Aprender a rezar na era da técnica. Lisboa: Relógio d’Água. https://relogiodagua.pt/produto/aprender-a-rezar-na-era-da-tecnica-pre-venda/

Fonte da imagem: United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. (2022, Oct.). Global Media and Information Literacy Week (24-31 October). UNESCO: Paris. https://www.unesco.org/en/weeks/media-information-literacy

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Concurso Nacional de Leitura (CNL) 2023

 

Objetivos do Concurso Nacional de Leitura:

    Estimular o gosto e os hábitos de leitura;

      Melhorar a compreensão leitora.

A iniciativa tem como destinatários alunos dos 1.º, 2.º, 3.º ciclos do ensino básico e alunos do ensino secundário.
As inscrições decorrem entre 12 a 28 de outubro de 2022.


A 11 de novembro de 2022, o PNL2027 publica no Portal do PNL2027 a lista das escolas inscritas e das obras selecionadas.

Escolas e alunos não inscritos não podem participar no concurso.

Alunos não inscritos em fases anteriores não podem ser admitidos nas fases seguintes.

• No CNL não há lugar a suplentes.

• Todos os candidatos à participação no CNL menores de idade devem apresentar, na escola de origem, a declaração de consentimento dos respetivos encarregados de educação, disponível no Portal do PNL2027.

As provas na Fase de Escola realizam-se na segunda semana de janeiro de 2023.

Livros selecionados para a Fase de Escola:

1.º ciclo EB                                              2.º ciclo EB

                



                                           3.º ciclo EB                                            E. Secundário

                             

       Leitura digital: Navio-Misterio-1.pdf (jorgealvares.com)

 




EFA : Young Audience Award 2022

A 11ª edição do Young Audience Award terá lugar a 13 de Novembro num formato híbrido para que jovens de todo o país possam participar e fazer parte de maior júri jovem da Europa!

Um evento de cinema para jovens dos 12 aos 14 anos que são jurados do Prémio do Público Jovem da European Film Academy (EFA).

A inscrição é gratuita e aberta a Portugal Continental e Regiões Autónomas da Madeira e Açores.

Os participantes terão acesso exclusivo aos 3 filmes nomeados e, para além de votar no vencedor do Young Audience Award, poderão participar em diversas atividades programadas.

Uma verdadeira experiência cinéfila, democrática e europeia!

Inscrições abertas até dia 3 de Novembro


➡️Toda a informação e ficha de inscrição em https://www.academiadecinema.pt/actividades/efa-young-audience-award/Inscrições em: https://forms.gle/B1FhrPgdEcZmG5Ba7 




Filmes Nomeados 2022

  • ANIMAL – de Cyril Dion (França)


Os adolescentes Bella e Vipulan viajam, para se encontrarem com cientistas de todo o mundo, procurando outra maneira de viver ao lado de outras espécies, como co-habitantes, em vez de predadores.


  • COMEDY QUEEN – de Sanna Lenken (Suécia)


Sasha, de 13 anos, decidiu tornar-se uma comediante de stand-up. Acima de tudo ela quer fazer o seu pai rir. Em casa tudo lhe lembra a mãe, que já faleceu. Mas Sacha não quer chorar. Secretamente, ela escreve uma lista de tudo o que deve fazer para sobreviver à dor: rapar o cabelo, parar de ler livros, recusar o cachorrinho mais fofo do mundo e, acima de tudo, tornar-se numa Rainha da Comédia.


  • DREAMS ARE LIKE WILD TIGERS – de Lars Montag (Alemanha)


Bollywood é o rugido do tigre para Ranji, de doze anos, de Mumbai: os filmes coloridos da indústria cinematográfica indiana, com as suas canções e passos de dança, fazem-no feliz. Ele não quer nada mais do que ficar em frente da câmara e do seu ídolo, o superstar Amir Roshan.
Mas o seu grande desejo parece estar fora de alcance, quando os seus pais lhe contam sobre o sonho de emigrarem para a distante Alemanha. Apenas a possibilidade de participar num casting para o novo filme de Amir Roshan, o mantém esperançoso. “Tens de lutar pelos teus sonhos! Eles não se concretizam sozinhos!” Toni, uma inesperada aliada de Ranji, concorda com esse sentimento e, juntos, unindo esforços, preparam-se para realizar os seus sonhos – e, no processo, descobrem a alegria da verdadeira amizade.

Fonte: EFA Young Audience Award – Academia Portuguesa de Cinema (academiadecinema.pt)

domingo, 16 de outubro de 2022

Histórias da Ajudaris 2023

 

Os pequenos grandes autores sob a orientação de professores e educadores solidários, tornam-se verdadeiros autores de histórias de encantar, sobre temas como a solidariedade, os afetos, a cidadania, o ambiente, os valores, entre outros, de especial relevância. Cada história conta com um ilustrador solidário que colhe inspiração na história que lhe for atribuída, dando cor e vida às suas personagens e cenários.

2023 – Tema ” A Paz”!

Desde 2009 a promover a leitura, a escrita, a arte e a cidadania em parceria com os Estabelecimentos de Ensino Solidários!

Em sala de aula, na Biblioteca, em Família, juntos vamos criar textos de qualquer género literário para dar visibilidade às boas práticas dos Educadores e Professores. Vamos proporcionar o poder da autoria aos pequenos grandes autores e, paralelamente valorizar e reconhecer o excelente trabalho desenvolvido pelas escolas.

Inscrições 23 aqui!

Regulamento 23 aqui!


sábado, 1 de outubro de 2022

Mês Internacional das Bibliotecas escolares (MIBE) 2022

Assinala-se em outubro o Mês Internacional das Bibliotecas escolares (MIBE). 

Em Portugal, o Dia da Biblioteca Escolar assinala-se na quarta segunda-feira do mês de outubro, em 2022, dia 24/10.

O mote para este ano já está lançado: LER PARA A PAZ E HARMONIA GLOBAIS.


Promovem-se ações de formação de utilizadores da biblioteca, particularmente, para novos alunos (5.º e 10.º anos).

Encerra cada sessão com um jogo Escape Room, relacionado com a organização do fundo documental na biblioteca.


quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Setembro Mês da Alfabetização e das Literacias (SMAL)

 

O dia 8 de setembro foi instituído pela UNESCO como o Dia Internacional da Literacia.

Para conhecer iniciativas em várias partes do globo clicar na imagem ao lado.

Em Portugal, a APEFA com o Alto Patrocínio Presidência da República e em parceria e com o apoio da ANMP, Ministério da Educação, ANQEP, PO CH, ANAFRE e PNL promove, durante todo o mês de setembro, a Iniciativa Nacional de Educação e Formação de Adultos, #SMAL2022.

fonte: https://www.poch.portugal2020.pt/pt-pt/Noticias/Paginas/noticia.aspx?nid=1093&ano=2021&pag=3&nr=9


Para saber mais






terça-feira, 12 de julho de 2022

Projeto bYou - Seminário "Crianças, jovens e media: o direito à expressão e à participação"

"Reconhecendo a infância e a adolescência como processos dinâmicos e considerando as crianças e jovens não como projetos de futuros adultos, mas antes como sujeitos do e no presente, o projeto, ao centrar-se em três faixas etárias distintas, pretende construir um olhar evolutivo que dê conta do que permanece e do que muda em termos de práticas e vivências mediáticas. Através das vozes de crianças e jovens, procura- se entender os seus mundos à luz dos desenvolvimentos tecnológicos que possibilitam, mas não garantem, que essas vozes sejam proferidas, escutadas, reproduzidas e partilhadas. Os atuais desafios societais tornam crucial que as suas expressões sejam consideradas para enriquecer e qualificar projetos e políticas públicas que lhes digam respeito. São estas ideias que dão nome ao projeto: bYou–be you (sê tu) e by you (por ti)." Para saber mais


O Agrupamento de Escolas Carolina Michaëlis é um dos parceiros deste Projeto.



Para aceder ao Mural bYou, clica na imagem abaixo.




segunda-feira, 11 de julho de 2022

Biblioteca Temática Itinerante

 

Em resultado da parceria com a Associação Gentopia, publica-se o memorando relacionado com a execução da atividade "Biblioteca Temática Itinerante.

Foram intervenientes diversos agrupamentos de escolas da cidade do Porto.

Agradecimento a todos quantos participaram, alunos, docentes, técnicos e convidados.

Recorda-se a informação publicada aquando da visita do escritor Bruno Magina, da atriz Patrícia Queirós e do escritor Richard Zimler

sábado, 9 de julho de 2022

Encontro Nacional RBE | PNPSE

 


Partilha de práticas no âmbito do trabalho de articulação entre as equipas da Biblioteca Escolar e do Plano de Desenvolvimento Pessoal, Social e Comunitário (PDPSC). [...]
A biblioteca escolar, enquanto espaço de inclusão, conhecimento e cultura que promove o envolvimento com as famílias e a comunidade, assume-se, por isso, como parceira natural do PNPSE.




Recursos Educativos Digitais para o 1.º ciclo do Ensino Básico

A Direção-Geral da Educação promove e apoia o desenvolvimento e a divulgação de Recursos Educativos Digitais de qualidade, de acesso livre, validados científica e pedagogicamente. A disponibilização destes recursos pretende contribuir, entre outros, para: a adoção de práticas pedagógicas inovadoras; a diversificação de estratégias promotoras da autonomia dos alunos; a diferenciação pedagógica; o incremento da autoavaliação e da autorregulação; o desenvolvimento de mais e melhores aprendizagens.


Clicar na imagem para aceder à Ilha Periscópio

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Trilhos da Palavra - portefólio digital

 

Em resultado do trabalho realizado na Oficina de escrita criativa,

Trilhos da Palavra

produziu-se um portefólio digital com uma seleção dos textos elaborados.

Parabéns aos participantes, pela criatividade e empenho que revelaram.

Continua no próximo ano letivo ...